Continuamos a nossa rubrica desta vez com a participação do Dr. João Malta Barbosa, médico dentista, ao qual agradeço pela simpatia e disponibilidade.
Pode fazer um resumo do seu percurso?
Claro! O meu percurso profissional iniciou-se no Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz (ISCSEM), no Monte de Caparica, em 2005. Durante os cinco anos de formação pré-graduada em Medicina Dentária no ISCSEM tive ainda a oportunidade de complementar o meu percurso académico com uma forte vivência associativa que culminou ao assumir a presidência da Associação de Estudantes. Tratou-se de um período muito importante da minha formação profissional e pessoal.
Após a conclusão do curso em 2010, e depois de uma breve passagem pela Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Granada (Espanha), iniciei a minha actividade clínica privada no Instituto de Implantologia em Lisboa. Considero até hoje que representa o momento mais importante da minha carreira profissional uma vez que, tratando-se a minha primeira experiência laboral, resultou num enorme estímulo que me ajudou a definir e elevar os meus objectivos profissionais.
Em meados de 2013, e com um forte incentivo e apoio do Professor João Caramês, decidi mudar-me para Nova Iorque onde iniciei e concluí o curso de formação avançada internacional em Prostodontia. Após concluir este ano de formação avançada fui convidado a permanecer no Departamento de Prostodontia da Universidade de Nova Iorque (NYU) onde presentemente me encontro no último ano do programa de especialidade. Esta fase corresponderá a um total de quatro anos de formação exclusiva na área da Prostodontia.
O João estudou no estrangeiro (NYU). Quais as principais diferenças entre a medicina dentária Americana e a Portuguesa?
Penso que a minha resposta se aplicará a mais áreas do que exclusivamente à Medicina Dentária. Tratam-se de dois países com dimensões totalmente distintas: geográfica, populacional e económica; e que se encontram intimamente relacionadas.
Fisicamente a maior área geográfica a par da maior população resulta num maior número de grandes centros urbanos que, como em qualquer outro país, concentram pessoas, serviços e riqueza. Assim, e no caso concreto da Medicina Dentária, há espaço para a existência de grandes centros de formação, como é o caso da NYU, com elevados números de estudantes pré e pós-graduados.
Considero a Medicina Dentária Americana como sendo mais diferenciadora no que respeita às especialidades Médico-Dentárias. Esta diferenciação inicia-se no meio académico através da oferta de distintos níveis de formação profissional e transita para o meio laboral, não só mas também, devido aos elevados níveis de litígio relacionados com procedimentos médicos. Assim, o Médico-Dentista generalista tem um papel importante na manutenção da Saúde Oral das populações realizando um leque variado de procedimentos clínicos, contudo, tratamentos mais extensos ou complexos são tendencialmente encaminhados para especialistas.
Em Portugal a diferenciação profissional Médico-Dentária por via académica ainda não se reflecte num reconhecimento social significativo. Admito que a população portuguesa ainda não saberá reconhecer a diferença entre a formação e qualificações de um Prostodontista ou Periodontologista e um Médico-Dentista Generalista da mesma forma que reconhece essa diferença entre um Médico Geral e um Cardiologista ou Ortopedista. São processos que levam tempo mas que acredito que se aproximam. Ainda assim quero salientar que temos profissionais de nível mundial em todas as áreas da Saúde Oral em Portugal e nem sempre a excelência profissional passa obrigatoriamente pela realização de programas de especialidade a tempo-inteiro. Dedicação, estudo e gosto pela profissão são os ingredientes verdadeiramente incontornáveis.
Que acha da evolução da saúde oral em Portugal?
Penso que a Saúde Oral em Portugal atravessa um momento difícil pelo excesso de formação de profissionais para as necessidades do País. Mas os momentos difíceis também fazem parte da evolução e, como diz a sabedoria popular, enquanto uns choram outros vendem lenços. Como venho referindo, acredito na diferenciação profissional e que esta se reflecte directamente nos níveis de prestação de cuidados de saúde, e acredito também que as populações aprenderão rapidamente a reconhecer essa diferenciação no caso concreto da Saúde Oral. Recorrendo a exemplos simples do dia a dia: se pensarmos no mercado automóvel, sabemos que não podemos esperar o mesmo de um Porsche ou de um Fiat; na hotelaria, que a qualidade e serviços de um hotel de cinco estrelas não se poderá equiparar a uma simples pensão; e na Saúde, que um profissional que se diferencia terá naturalmente habilitações superiores às de um outro que não faça da formação uma prioridade.
Qual foi o episódio mais marcante na sua carreira?
Como referi anteriormente, o meu início profissional no Instituto de Implantologia pela equipa com quem tive a oportunidade de trabalhar. Penso que o primeiro trabalho é um momento marcante em qualquer carreira profissional, e encontrar um ambiente que promova a excelência profissional é determinante.
Não vive sem o quê no seu trabalho?
Não vivo sem luvas! Não me consigo imaginar a trabalhar como antigamente…
Do que mais gosta na vida?
Da minha Família, do mar, do meu trabalho, de Portugal.
E o que menos gosta?
De repetir erros… Chega uma vez para aprender.
Tem projectos para o futuro?
A nível profissional, concluir este percurso de especialização em Nova Iorque, e posteriormente retomar a prática clínica privada em simultâneo com uma vertente educativa. Gosto de partilhar o que aprendi. De momento procuro fazê-lo através da publicação de artigos científicos escritos mas no Futuro gostaria de o poder fazer de uma forma mais pessoal e directa com os meus colegas de profissão.
Deixe um conselho para os novos profissionais da área.
A aposta na diferenciação! É sem dúvida o melhor investimento que podem realizar! Haverá sempre lugar para profissionais dedicados, competentes e especializados.
Um pensamento