Pode estar a pensar que vem apenas para uma “limpeza”, mas é o meu dever de examinar a sua boca, procurar lesões, cáries e se existem problemas com a gengiva, como periodontite, e ainda devo aconselhar para que possa atingir um excelente nível de saúde oral. Talvez faça uma piada, em como é preciso relaxar na cadeira. Chamo-a de cadeira confortável; apenas para quebrar a tensão. Eu sei que não é a experiência mais agradável, por isso tento fazer desaparecer a sua preocupação, explicando as diferentes emoções que os pacientes sentem, enquanto deito a cadeira. No final de contas estou a “expôr” os seus pontos mais vulneráveis e o instinto leva-o a ficar nervoso e a cruzar os braços. Então começo o tratamento, invado o seu espaço pessoal, enquanto uso uma máscara e os óculos de protecção.
Adoro o meu trabalho e normalmente os pacientes partem a sentir-se melhor, mais cultos e, claro, mais “limpos”. Não me importo o “os meus dentes estão mesmo mal”, é uma excelente sensação quando tiramos uma grande porção de tártaro fora, deixando o esmalte liso onde o paciente não consegue evitar tocar com a língua após a diferença. Mas também tenho sentimentos; Não consigo evitar olhar para todos os pontos negros e para todos os pêlos (ou coisas piores), que saem do seu nariz. Não me pode culpar; Tenho uma excelente iluminação.
É algo pertubador quando a sua língua segue os meus instrumentos e irritante quando os empurra, e pertubador, também, quando fazemos contacto olhos nos olhos. E tem de me explicar, o porquê, de repente não conseguir engolir a sua própria saliva? Mas o pior é o desrespeito que alguns pacientes têm, ao chegar à consulta sem ter lavado os dentes ou terem comido algo mesmo antes. Nunca o digo, mas gostava de perguntar: “Deixaria um outro oríficio do seu corpo no mesmo estado se fosse fazer um exame ao Ginecologista ou um exame à próstata ao Urologista?” Eu acho que não…
inspirado pelo jornal Guardian